Daniela Pinheiro

Pausa, desenho digital, 2020.

Pausa

"O tempo é ainda de (…) alucinações e espera" (Carlos Drummond de Andrade).

No interior de uma grelha, que parece legitimar o lugar das coisas, o centro move-se lentamente. As circunferências, que se registam sobre a superfície translúcida das folhas de papel, vão deixando um demoroso rasto de inscrições repetitivas. Do centro para as extremidades, os gestos particulares vão sendo absorvidos pelo contexto geral: as marcas deixam as suas especificidades individuais e a ilusão apodera-se do desenho. Ponto após ponto, traço após traço a imagem vai ganhando um movimento, que de todo parece ser o seu. A fragilidade revela-se e confirma-se.

O tempo construtivo, esse que convocava uma dinâmica corporal, desvanece-se. O movimento e a ação dissipam-se num instante suspenso. Que bom seria, que algum tipo de cinesia continuasse presente. Um pequeno indício bastaria. Seria suficiente para convocar hipóteses, suposições, hipotéticas conjeturas… Que bom seria, saber se está a aumentar ou a reduzir. Mas a força do porvir que permanece em ação, parece não ser menos de ruptura do que de integração, nem menos de “dissensão (…) quanto de consenso” (Jacques Derrida) . Dir-se-ia que é tanto sinal de mudança, quanto de estagnação. É um estar entre. É um intervalo. É uma espera em pausa.

"The time is yet of (…) hallucinations and waiting" (Carlos Drummond de Andrade).

From the inside of a grid, that seems legitimate the place of forms, the center moves slowly. The circles, that were inscribed on the translucent surface of the papers, leave an extensive clewline of repetitive inscriptions. From the center to the outer borders, the particular gestures go being absorbed by the general context: the gestures leave their own specificities and the illusion takes over the drawing. Step by step, stroke by stroke the image wins a movement, that doesn’t seem to be from itself. The fragility is revealed and confirmed.

The constructive time, that who proclaims a corporal dynamic, disappears. The movement and the action dissipate in a suspended instant. How good would it be if some kind of movement continued present. A little clue would be enough. Would be sufficient to summon up some hypotheses, assumptions or hypothetical sights… How good would it be, to know if it is increasing or reducing. But the strength of what’s coming up, that remains in action, seems not to be less of rupture than of integration, neither less of “dissension (…) as consensus” (Jacques Derrida). It would be said that it is as much a signal of change as of stagnation. It is an in between. It is a break. It is a waiting in pause.

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