Samuel‌ ‌J‌ ‌M‌ ‌Silva‌

No ano 2000 Jonas Mekas, um dos mais célebres cineastas do cinema experimental, decidiu compilar cerca de três décadas de películas caseiras com pequenos registos intimistas da vida famíliar: festas de aniversário, férias, os primeiros passos dos filhos, baptizados, entre outros. A esse filme chamou “As I Was Moving Ahead Occasionally I Saw Brief Glimpses of Beauty “. Pedaços de vida filmados e organizados de forma intuituiva (não cronológica) onde durante quase 5 horas – um dos filmes experimentais mais longos da história do cinema- Mekas na sua rouquidão característica comenta em off continuamente aquilo que o espectador está a observar. Foi precisamente no embalo da sua voz que no terceiro capítulo do filme ouvi a seguinte frase “Keep looking for things, in places, where there is nothing”. Uma frase enigmática que traduz com grande assertividade o modo de ver e entender o cinema por parte de Mekas, sobretudo pela capacidade que ela tem de nos colocar perante três desafios: 1) Como inventar um novo olhar resistente à flutuação vertiginosa do modo de ver contemporâneo?; 2) Elogiar a lentidão; 3) Valorizar o insignificante; deixar-nos seduzir pelo anti-monumento, pela periferia, pelas margens da atenção.
O projecto videográfico que tenho vindo a desenvolver desde 2019 procura, nos seus múltiplos vídeos constituintes, encontrar um modo de relação com a realidade a partir destes pressupostos.